terça-feira, 23 de setembro de 2008

"At last...my arm is complete again!"


“Achas que és capaz de cantar…?” Bastou esta pergunta, feita por Tim Burton a Johnny Depp, para que se aliasse a fome à vontade de comer e Burton produzisse, finalmente, um musical, tendo como protagonista o seu actor de eleição e dando origem a uma obra única e singular.


“Sweeney Todd” mostra-nos uma cidade de Londres sombria, suja, desprezível e sem qualquer tipo de alegria, uma cidade pouco convidativa e maravilhosamente caracterizada, como já é habitual nas obras de Tim Burton (basta relembrar êxitos como “Eduardo Mãos-de-Tesoura” ou “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”). Burton esmerou-se, mais uma vez, na caracterização das personagens e do espaço, criando uma atmosfera de depressão, de tristeza, de mágoas mal curadas. Mas, se todo este ambiente é taciturno e algo sinistro, em coerência com o estado de espírito da personagem central, a força desta obra revela-se uma verdadeira paixão.

Johnny Depp surge, mais uma vez, com uma figura surpreendente e em nada semelhante a papéis de “menino bonito” como chegou a interpretar em “A mulher do Astronauta” ou até mesmo em “À procura da Terra do Nunca”. Quando se pensa que pouco mais pode fazer para reforçar o bom actor que é, eis que surge como Benjamin Barker, um talentoso barbeiro que perdeu a sua mulher e filha para um Juiz invejoso e arrogante que, não suportando a felicidade alheia, o mandou injustamente para a prisão. Quando regressa à sua cidade natal, Barker é um homem de olhar fantasmagórico, um homem amargurado pela vida que adopta o nome de Sweeney Todd. Com uma mente angustiada e tenebrosa, Todd volta à sua actividade de barbeiro, não para embelezar os homens, mas sim para se vingar de todos aqueles que o afastaram da sua família. Cruza-se então com Mrs. Lovett, dona da loja das “piores empadas de Londres”, que se torna sua aliada na sede de vingança. E dá-se então início a um verdadeiro jogo de contrastes cromáticos: as cores alegres só são usadas quando tal se justifica, nomeadamente nos “flashbacks” da vida passada do barbeiro e nas projecções de Mrs. Lovett para o futuro, já para não falar do sangue que jorra das gargantas dos malfadados clientes sempre que Todd corta uma garganta. Para além disso, e marcando a diferença com um ar quase vampiresco, Todd contrasta com o estilo “snob” dos restantes habitantes da Cidade e, ao mesmo tempo que se funde na escuridão desta, destaca-se de todo o cenário pela força da sua personalidade, pela sua excentricidade, pela sua alma. A par de toda esta história, surge como pseudo-novidade o facto de se tratar de um musical (e digo pseudo-novidade porque Tim Burton já introduziu algumas cenas musicais em filmes como, por exemplo, “Charlie e a Fábrica de Chocolate”), com letras recheadas de um humor sádico e simplesmente delicioso. As personagens são altamente dramáticas e com gestos exagerados e teatrais que dão ênfase a cada ponto da história. E se alguém ainda tinha dúvidas quanto à versatilidade de Johnny Depp, creio que ficam totalmente dissipadas. Mesmo com um aspecto amargurado e envelhecido, o actor canta e encanta, com uma voz profunda que se enquadra perfeitamente no ambiente gótico no qual a acção se desenvolve. De salientar são também as participações de Sacha Baron Cohen, num papel cómico como sempre, e de Ed Sanders, um talento infantil bastante promissor, já para não falar de Helena Bonham Carter, provavelmente a única actriz à altura de desempenhar um papel tão lunático como este, cuja voz encaixa na perfeição com a de Johnny Depp.


Um filme de exageros. Uma história de amor, vingança e tragédia, que nos envolve do primeiro ao último minuto.

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